domingo, 20 de maio de 2012

G8 tenta superar diferenças e discutir ‘crescimento com responsabilidade

A Rússia propôs durante reunião da cúpula dos países do G8, em Camp David, nesta sexta-feira, discutir os problemas do terrorismo internacional. Os principais temas discutidos serão a situação na Síria, no Irã, na Coreia do Norte, as questões de segurança alimentar, não proliferação de armas nucleares, defesa do meio ambiente e restituição da economia mundial após a crise. Tentando afinar o discurso antes de uma cúpula que tem recebido uma quantidade incomum de atenção, os líderes do G8 (grupo formado pelas sete economias mais industrializadas do mundo mais a Rússia) começaram a falar na mesma língua e reconhecer a necessidade de combinar austeridade com estímulo para reativar o crescimento na Europa. Na quinta-feira, os chefes de Estado de Alemanha, França, Grã-Bretanha e Itália, além do presidente da Comissão Europeia, discutiram a crise por teleconferência e chegaram a um “alto nível de concordância”, segundo o porta-voz alemão, “de que a consolidação fiscal e o crescimento não são contraditórios, mas necessários”. Ao mesmo tempo que os líderes europeus tentavam mostrar união em seu continente, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, dizia à Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, que o bloco abraçará o “crescimento” combinado com “responsabilidade”. - A União Europeia virá para o encontro do G8 com uma mensagem clara: a Europa está determinada a permanecer no seu curso por uma estratégia ampla para sair da crise e retornar ao crescimento – afirmou Durão Barroso – Uma abordagem em via dupla de finanças públicas sólidas e medidas de incentivo ao crescimento são os ingredientes cruciais da nossa resposta.” Diferenças A eleição do presidente François Hollande, na França, reforçou a corrente dos que defendem mais estímulos para tentar tirar a Europa da areia movediça em que voltou a entrar neste ano. A corrente oposta vinha sendo exemplificada pela chanceler alemã, Angela Merkel, defensora da austeridade e da consolidação fiscal para evitar uma repetição da crise de 2008. Entretanto, nos últimos dias, Merkel deu declarações afirmando que não vê o estímulo ao crescimento necessariamente como inimigo da austeridade. Outro que suavizou seu discursos foi o premiê britânico, David Cameron, que recomendou para a Europa o mesmo remédio que seu governo está aplicando internamente. - Essa é uma crise da dívida. E os déficits que causaram essas dívidas precisam ser reduzidos”, disse Cameron. “Mas o crescimento na grande parte da zona do euro evaporou completamente – concedeu. Para analistas, as diferenças não são tão radicais quanto parecem. “Não espero que haja um debate verdadeiro sobre responsabilidade fiscal versus estímulo, porque todos os países do G8 perseguem a sustentabilidade fiscal. Também não creio que haverá um debate sobre consolidação versus crescimento, porque todos querem alcançar o crescimento”, disse o conselheiro da Casa Branca para política externa Michael Froman, durante um evento em Washington. - Creio que a conversa vai tratar de como atingir esse crescimento, como levar em conta as diferentes necessidades nacionais e, no caso da Europa, como reforçar as instituições e mandar uma mensagem de confiança para os investidores. Para Justin Vaisse, diretor do Centro de Estudos para Europa e EUA do Instituto Brookings, de Washington, “o grande desafio (da reunião do G8) não é se vai haver consenso ou não entre Hollande e Merkel”. - De certa forma, os líderes têm de concordar e ninguém pode se dar ao luxo de ficar isolado. A questão é se haverá medidas suficientes para incentivar o crescimento na Europa e acalmar o descontentamento da opinião pública – avaliou. Para Vaisse, algumas propostas de Hollande, como o aumento de fundos do banco europeu de investimento e a realocação de fundos para melhor servir o objetivo do crescimento são “consenso” no continente. Volta do G8 Por causa do momento em que acontece – em meio a uma crise política na Grécia, e como uma espécie de plataforma de estreia multilateral para líderes como Hollande e seu colega italiano, Mário Monti –, o encontro do G8 tem atraído mais atenção que o normal. Um analista chegou a dizer que esta é a reunião “mais importante do grupo desde o choque nos preços do petróleo”, nos anos 1970. As discussões mais detalhadas sobre medidas econômicas e regulamentações financeiras devem ocorrer no encontro do G20 – o grupo que reúne os principais países emergentes e avançados –, dentro de um mês no México. Para o diretor do centro de Cooperação Internacional da New York University, Bruce Jones, a crise é um dos fatores que têm “fortalecido o G8″ nos últimos anos. - O que estamos vendo são as potências ocidentais tentando reconquistar uma posição que acham ter perdido com o início da crise em 2008 – disse Jones em entrevista à BBC Brasil. - Outro fator que está fortalecendo o G8 é a Primavera Árabe, na qual as ações das potências voltaram a ter preponderância. Estamos vendo um breve momento em que a lógica do G8 faz sentido. Mas não creio que fará no longo prazo. O especialista afirma que desde a ascensão do G20 os EUA pensaram em abandonar o G8, e só não o fizeram porque veem o grupo como um “mecanismo de pressionar a Europa em privado”. Os dois dias de reunião discutirão uma gama de assuntos que inclui a crise na zona do euro, o apoio aos países em transição na Primavera Árabe, as energias alternativas e a segurança alimentar no mundo. - Apesar de todos esses assuntos fazerem parte da programação oficial, muito do tempo informal e nos jantares deve ser dedicado às crises: a turbulência na zona do euro e, depois, a Síria – diz Bruce Jones.

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